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Observando o Passado

Observando o Passado

Observando o Passado - as caminhadas do Ventor pelos trilhos dos milénios


No cabeçalho, o Taj Mahal, Amor de Pedra Feito, observado do rio Iamuna, o segundo rio sagrado dos indianos, considerado, desde 2018, um rio sem oxigénio, superpoluido.

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Nem o crack dos cavaleiros, na Síria, resiste à malvadez de animais que se dizem homens


Tudo começou aqui, em  Adrão, na serra de Soajo. No dia 06 de Janeio de 1946, dia de inverno, aquecido pelos raios do meu amigo Apolo, o mundo recebia de braços abertos a chegada dum puto que veio a fazer as suas caminhadas pelos trilhos que o Senhor da Esfera lhe estendeu neste Planeta Azul

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O tecto da Gruta de Altamira, onde mãos de milénios nos deixaram em pinturas estas belas mensagens visuais.


O Ventor saiu das trevas ... para caminhar entre as estrelas.

Ele sonha, caminhando, que as estrelas continuam a  brilhar no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continua a ser belo e a fazer pinturas.

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O Ventor, o Gnomo e os Suevos

Encontro no Muranho

Um dia, muitos anos para trás, caminhava eu pelas minhas Montanhas Lindas dirigindo-me à Pedrada, o monte mais alto da serra de Soajo. Aquele  monte que muitos identificam como Outeiro Maior.

Estava muito calor e a aragem, na prática, não existia. Saí de Adrão, em passo estugado, dirigi-me serra acima, bebi água na fonte da Naia e continuei até à nascente do Muranho. Aí reparei que da terra brotava  pouca água. Limpei a nascente com um esgaravato de urze, e ao verificar que a água já saía limpa, cortei uns raminhos de urze e umas folhas de fetos e coloquei-os sobre a água que brotava da terra a fazer de filtro. A sede era muita e bebi  bastante água.

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A nascente do Muranho. Aqui nasce, para mim, a melhor água do mundo

Eu tinha almoçado uma feijoada (ir à terra em pleno verão, quem gosta de feijoada não perdoa) e, não tendo nada para fazer, pensei subir à Pedrada, apesar do calor. Porém, como não havia quase aragem nenhuma e a velocidade imprimida à caminhada, depois de beber toda aquela água no Muranho, saí das urzes que envolvem a nascente e, no topo do poulo, havia uma bela sombra proporcionada pelas urzes bem ramificadas.

Ora! Vou à Pedrada mais logo, quando estiver mais fresco. Deitei-me no poulo na frescura da sombra e adormeci.

Algum tempo depois de pegar no sono, comecei a sonhar!

Estava virado para os cortelhos do Muranho e, durante o sonho, vi um gnomo sentado sobre o cortelho maior, o nosso palácio. Começou a acenar com o braço a chamar-me que me queria falar sobre a história da minha gente. Esse gnomo estava sentado no topo do cortelho e vestia-se parecido com o Guilherme Tell com um chapéu verde enfeitado com penachos na cabeça mas uma figura minorca. Chamava-me com o braço para me juntar a ele mas eu não queria saber, queria era dormir. No entanto perguntei-lhe: “quem és tu, pá”? «Eu sou um suevo”!

“Então! E que tenho eu a ver com isso”? «Tu? Tu também és descendente de suevos»! “Pois! Está bem! Mas que tenho eu a ver com isso”?

Diz o gnomo já um pouco exaltado: «não tens nada a ver com isso. A não ser, seres descendente de suevos»!

«Andas a estudar a história da tua gente mas, por muito que estudes, nunca saberás o que sofreram com a chegada  dos romanos, a gente que habitava estes montes. Tu só te deves preocupar com a nossa chegada porque és um descendente nosso. Mas eu posso contar-te o que os romanos fizeram antes de nós cá chegarmos».

«Vou começar como tu gostavas de ouvir quando eras pequeno. Era assim que começavam todas as histórias. Era uma vez ....

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O Poulo do Muranho e os seus cortelhos. No centro, uma rainha da montanha

Era uma vez, muitos anos atrás, que vários povos habitavam a Península Ibérica. Mas eu também não sei tudo Ventor! Não sei tudo porque este mundo é muito confuso! Não sei, por exemplo, quem foram os primeiros povos que habitaram a Península Ibérica. Todos sabemos que, dos primeiros mais conhecidos, estavam os celtas e os ibéricos mas já cá haviam outras gentes. Não vale a pena falar deles porque a sua expressão histórica é insignificante. Quanto aos celtas e iberos sim, já têm expressão. Os celtas ocupavam a Europa Ocidental e, quanto aos ibéricos, poderão ter vindo da Ibéria, um reino que existiu para os lados dos Cárpatos. Mas passemos por cima disso. A junção desses povos deu origem aos celtibéricos. Depois chegaram os gregos e os fenícios que abriram feitorias, chamemos-lhe assim e, mais ou menos, conviveram pacificamente com os povos que ocupavam a Península. Com o tempo a colónia fenícia de Cartago começou a abotoar-se com os centros fenícios da península porque estavam instalados no norte de África e o acesso à península tornou-se mais célere. Como sabes, Cartago era uma colónia Fenícia.

Com o tempo, os romanos e os cartagineses entraram em confronto devido à tentação de, entre outros assuntos, tentarem dominar o mar Mediterrâneo. Após várias guerras, as chamadas guerras púnicas, foram os romanos que saíram vencedores e passaram a dominar o Mediterrâneo, a que chamaram «Mar Nostrum».

Entretanto, os romanos apoderaram-se de tudo o que era cartaginês e, como tinham mais olhos que barriga, foram-se apoderando de toda a Península mas levaram cerca de 200 anos para a conquistar. Foi obra! Aplicaram nessa conquista os seus melhores generais, cônsules e até o imperador Augusto teve de cá vir porque entendeu que a coisa estava cada vez mais preta.

Mas houve uma fase que interviu na Península Ibérica um general Cônsul chamado Bruto ... qualquer coisa Bruto. Um tal que foi avô de outro Bruto, o tal que deu a última facada a Julius César no senado romano.

Quando esse Bruto apareceu, seguiu rumo até Olisipo (a Lisboa de hoje) e de Lisboa dirigiu-se para norte. De Lisboa até a actual Braga, ele destruiu e matou tudo o que encontrava pelo caminho. Chegado a Braga travou várias escaramuças com tribos locais, entre elas os Brácaros. Era um povo muito aguerrido e as próprias mulheres lutavam ao lado dos maridos porque preferiam morrer a combater os romanos do que serem escravas deles.

Os galegos, mais a norte, preparavam-se para vir em socorro dos seus vizinhos brácaros e outros e esse tal Bruto, depois de derrotar os brácaros, dirigiu-se para norte para dar luta aos galegos. É aí que entra a história do rio Lete, o actual rio Lima que tu gostarias de saber ao certo. Quando Bruto e os seus homens chegaram ao rio Lete, estes recusaram-se a atravessa-lo. Disseram que era o rio do esquecimento que havia no inferno e não iriam para o outro lado onde perderiam a memória. Bruto atravessou o rio calmamente e os seus homens ficaram na margem esquerda. Depois de chegar à margem direita, no lado norte, Bruto começou a chamar os seus homens pelos seus nomes e eles, verificando que o seu comandante não perdeu a memória, afoitaram-se a atravessar o rio também.

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Olha bem para este mapa Ventor e não te esqueças do que te vou contar sobre ele

Assim, Ventor, não precisas de investigar mais de onde partiu Brutus para atravessar o rio Lete. Não, não foi de León ou outra qualquer regiões da Espanha. Foi de Braga! Atravessado o rio seguiram rumo à Galiza onde enfrentaram a ajuda que se ia dirigir para sul auxiliar os brácaros e os romanos derrotaram uma força de 60.000 homens que os galegos tinham juntado. Juntado, digo bem, porque esses 60.000 homens não tinham nada a ver com as legiões romanas. Era apenas um aglomerado de homens que se juntaram para dar luta aos romanos que odiavam mas não tinham organização militar. As gentes da península, como lusitanos e outros lutaram que nem heróis mas faltava-lhe a organização das coortes romanas.

Assim, esse tal Bruto, acabou por conquistar a Galiza, a Galécia romana, tomando esse Cônsul romano, todo pimpão, o nome de Galaico por esse motivo. Já agora é melhor ficares a saber o seu nome completo, Chamava-se Décimo Júnio Bruto e, claro, o Galaico.

Mesmo assim, a Península ainda não estava conquistada. As hostes indígenas usavam a técnica do bate-foge que tu conheces bem e faziam a vida negra aos romanos, constantemente. Eram os homens dos castros. Havia bastantes pela península fora, especialmente no norte de Portugal e Galiza.

Um dia que voltes cá, Ventor, eu falar-te-ei do meu povo, afinal do teu, os Suevos. Viemos das zonas germânicas empurrados por outros e construimos um reino que vigorou cerca de 150 anos por estas terras maravilhosas e com a capital em Braga. Pelo menos os romanos também tiveram o que mereceram».

Entretanto acordei procurando com os olhos esse hominho mal enjorcado que já não estava em lado nenhum, nem nos cortelhos nem no poulo. Acordei e fiquei sozinho!

Sendo verdade o que ele me contou, o Bruto, terá atravessado o rio Lima em direcção aos meus lados, pela zona da Pedrada. Até porque muitos dos seus legionários, segundo o gnomo, teriam visto o mar pela primeira vez nas costas do Minho, onde ficaram embasbacados com a beleza que o meu amigo Apolo lhes proporcionou ao deitar-se nos lençóis de Neptuno.

Mas quem festeja a travessia do rio Lima pelo Décimo Júnio Bruto são os galegos de Xinzo numa tal «festa do esquecimento».

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Caminhadas do Ventor, por Trilhos de Sonhos e de Ralidades, cujas histórias contou ao Quico e o Quico contou-as, para vós, brincando. Foi sob o Tecto do seu amigo Apolo que aprendeu a conhecer os seus amigos, ... como o deus nórdico Freyr e o seu javali Gullinbursti, entre outos