Catarina de Bragança
Há dias, caminhava eu numa moderna zona de Lisboa, para tentar observar, mais de perto, os meus amigos flamingos, por ali, junto à ponde Vasco da Gama. Seguia rumo aos lados de Moscavide mas, saiu-me ao caminho, vestida à moda do séc. XVII, aquela que foi filha de D. João IV, Infanta de Portugal, Princesa das Beiras, Rainha consorte da Inglaterra e da Escócia, enfim, de todo o Império Britânico de então.
Levou com ela, para entregar à coroa de Carlos II de Inglaterra, uns milhões de trocos, creio que cruzados (dois milhões?) mas, com ela foram também duas belas jóias da Coroa Portuguesa: Tânger, no Norte de África e Bombaim, uma ilha na costa ocidental do Decão, na Índia, com o seu belo porto e cidade que já teve, posteriormente, o nome de Bombay e, actualmente, Mumbay.

Eu e Catarina de Bragança, num diálogo, sobre a sua história, numa bela manhã dos últimos dias de verão de 2011
Mas, negócios são negócios e, no passado, se calhar como hoje, muitos casamentos não passam de negócios, nem que sejam só negócios de trapinhos. Claro que não foi o meu caso. Não houve intromissão de negócios e foi para valer.
Mas a Princesa de Portugal, não terá sido tão feliz como Rainha consorte de Inglaterra. Ela teve de entrar nos negócios de seu pai, D. João IV, negócios que tinham como objectivo, sempre, a ajuda externa na guerra contra os Filipes de Espanha, no seu caso Filipe IV.
Esta nossa Princesa das Beiras, esteve várias vezes sobre a mesa, para negociações, sempre em nome de Portugal!
Catarina, ainda não tinha 8 anos e já era moeda de troca nas negociações portuguesas. Primeiro com D. João de Áustria (filho bastardo de Filipe IV), depois com o duque de Beaufort, neto bastardo de Henrique IV de França, mais tarde com Luis XIV de França, com negociações entre a Coroa Portuguesa e esse abade cardeal a que chamaram Mazarino que, segundo os relatos, traiu as negociações com Portugal fazendo as pazes com os espanhóis nas costas dos portugueses.
Os cardeais ministros da França, como Richilieu e Mazarino, tal como na ficção de Alexandre Dumas, foram sempre uns traidores à própria França como não haveria de ser Mazarino traidor às negociações com Portugal, se ele se estava nas tintas para a Coroa Portuguesa como estava para a própria Coroa Francesa! A eles só interessava o seu próprio poder.
Mas enfim! Lá veio o negócio com a Inglaterra por interesses vários, de Portugal e da Inglaterra, lá foi a nossa princesa entregue a Carlos II um baldebino das ruas escuras de Londres. A nossa princesa, sofreu na terra dos nevoeiros, onde os (... ingleses), não gostavam dela por ser católica e, calculo eu, não seria uma vida interessante a da Princesa das Beiras, longe do seu chão alentejano de Vila Viçosa.
Sofreu, concerteza, e apenas os americanos lhe revelaram uma certa estima que até deram o nome de Queens, em sua honra, a um bairro da cidade de Nova Iorque.

Catarina de Bragança, no Parque das Nações, Junto à Ponte Vasco da Gama
Mas Catarina veio morrer à terra da felicidade, uma terra de sol e de flores e onde podia gritar alto: "eu também sou filha do sol, Ventor"! Catarina de Bragança enviuvou, em 1685, e manteve-se em Inglaterra até 1692, ano em que embarcou para Lisboa, onde veio a morrer em 1705, vindo assim, a desfrutar do sol português, durante mais 13 anos.
Sempre que passo ali, a alma de Catarina, naquela sua figura de metal, diz-me sempre como Portugal podia ser um paíz tão feliz e como agradece por os portugueses se terem lembrado da sua existência, no passado, como filha de Portugal.
Deixo, aqui, este texto, apenas para servir de rastilho àqueles que gostam de história e se recordam desta Princesa de Portugal, Rainha de Inglaterra, como foi rica a história do seu tempo, onde estivemos envolvidos, com os espanhóis, numa guerra de 28 anos, a Guerra da Restauração de Portugal como Pátria independente e como esta Princesa de Portugal serviu de moeda de troca para servir os interesses entre Portugal e a Inglaterra.