Carlos Martel ...
... preparando o reino dos francos.
Charles Martel (em francês) ou Carlos Martelo (em português), foi assim considerado um "Martelo" a bater na bigorna do Islão!
É disto que vos vai falar o Ventor. O Ventor costuma dizer que, misturando a história autêntica com as lendas que foram correndo nas bocas dos povos até dá para fazer umas brincadeiras. E o Ventor gosta de brincar com estas duas fontes. Gosta de me contar a história a brincar!
Carlos Martel, nasceu em Herstal (na Valónia, hoje Bélgica), no ano 688 e era filho de Pepino de Herstal, Prefeito do Palácio do reino da Australásia. O Prefeito do Palácio era assim chamado porque era o homem que governava (uma espécie de Primeiro Ministro). Segundo se rezava por aquelas bandas, os reis eram chamados de "Verbos de Encher".
Os Prefeitos dos Palácios eram os homens fortes dos reinos francos. Nessa altura existiam três reinos francos: o reino da Australásia, o reino da Nêustria e o reino de Borgonha (terra dos Burgúndios).
Pepino de Herstal, era o homem que (o Ventor julga que, quase de certeza), ocupou o lugar de Prefeito do Palácio, nos três reinos, ao mesmo tempo e tomou para si o título de Dux e Princeps Francorum. Tudo isto porque, as guerras intestinas entre os francos eram uma máquina trituradora sem limites. Nunca acabavam!
Pepino de Herstal faleceu em Jupille, na Bélgica, em 714, 3 anos depois da invasão sarracena à Península Ibérica que, como sabem, se deu em 711 e os visigodos foram derrotados na batalha de Guadalete, terminando aí o reinado de Roderico ou Rodrigo e o Reino Visigótico de Toledo. O que vocês não sabem é que o Ventor, ao passar por Guadalete, num mês de Julho em que essa batalha fazia 1265 anos, ainda ouviu relinchar os cavalos do mouro Tariq e de Rodrigo.
Tudo isto para vos dizer que Carlos Martel apareceu no meio dos francos, onde a morte de seu pai o colocou, 3 anos depois de guerras intestinas, em 717, como Prefeito do Palácio do reino da Australásia (o Reino Franco do Oriente) e, quando para além das lutas intestinas dos francos, os sarracenos se iam apoderando em força de quase toda a Península Ibérica, ficando apenas, como tábua de salvação, um pequeno espaço - a parte montanhosa das Astúrias.
Carlos Martel tinha 26 anos quando seu pai morreu e foi governando os francos, e não só, como podia e, no meio de várias lutas, expandiu o seu domínio sobre os três reinos francos.
Uma estátua de Charles Martel
Batalha contra os Sarracenos
Mas Carlos Martel sabia que o perigo contra a terra dos francos viria do Oeste e a ameaça seria dos sarracenos. O Emir de Córdoba preparou desde 721, 10 anos depois de entrarem na Espanha, a conquista da Aquitânia, governada pelo Duque Odo, o Grande. Para essa invasão vieram homens de todo o islão, desde Marrocos à Pérsia e, em 721, cercou Toulouse.
Odo, o Grande, sem forças para correr com os mouros, partiu em pedido de socorro e apareceu três meses depois, com forças suficientes para desbaratar o cerco dos sarracenos e libertar Toulouse que ficou a resistir ao cerco sarraceno durante esse tempo.
Enquanto isso, Carlos Martel preparava a organização de um exército permanente e para pagá-lo, iniciou a retoma das terras que havia oferecido à Igreja em troca de ajuda contra os seus inimigos internos. Por esta acção, Carlos Martel correu o risco de vir a ser excomungado mas, a igreja conteve-se, pois ter-se-á apercebido de que a causa defendida por Carlos Martel era uma causa justa e era levada a cabo em nome de Deus e da Cristandade.
E Carlos Martel tinha razão! Em 732, o Emir de Córdoba Abdul Rahaman Al Ghafiqi, lançou a invasão da Aquitânia com um exército poderoso do islão mas, desta vez, encontrou o exército de Carlos Martel pela frente. Carlos Martel escolheu o terreno para a batalha. Uma elevação arborizada para não permitir manobras eficazes à cavalaria sarracena com lanças de 6m, entre Poitiers e Tours (por isso essa batalha é conhecida por Batalha de Poitiers e, também, Batalha de Tours. Carlos Martel, tinha já uma cavalaria, mas uma cavalaria sem estribos. Por isso, contra uma cavalaria pesada dos Sarracenos, com lanças de 6 metros e uma cavalaria ligeira armada com arco e flecha, apercebeu-se que não tinha poder de manobra e decidiu que os francos iriam lutar apenas como infantaria, no meio das árvores. Segundo consta, até Odo, o Grande, se desmontou do cavalo e alinhou ao lado dos restantes homens.
No desencadear da luta, Carlos Martel matou Abdul Rahman e o exército sarraceno, ficou desorientado e não se entendeu para nomear um general para substituir o Emir e, diz o Ventor que, segundo alguns historiadores de que já não recorda o nome, foram os generais da Pérsia os primeiros a debandar, acabando por debandar tudo e, terá sido de tal forma, que Carlos Martel nem acreditava, levando algum tempo a convencer-se que a retirada tinha sido efectiva, pois ele julgava que os Sarracenos, tinham feito uma retirada fictícia (ou falsa), para chamar a infantaria de Carlos Martel a campo aberto e saltar-lhe para cima com todo o poder que dispunha ainda das cavalarias pesada e ligeira, destruindo-a. Carlos Martel só abandonou a elevação da sua vitória depois de ter confirmado que, afinal, os sarracenos retiraram em debandada geral.
A Batalha de Poitiers foi desencadeada num local, entre Poitiers e Tours, na Aquitânia, no ano de 732, entre as forças dos francos comandadas por Carlos Martel e os sarracenos vindos de vários locais do Islão e comandados por Abdul Rahaman Al Ghafiqi - Foto Wiki
Foi assim, a Batalha de Poitiers ou de Tours, se preferirem, uma grande vitória da Cristandade, mas ainda não foi desta que carlos Martel se viu livre dos Sarracenos porque, nos anos seguintes, eles voltaram à carga, desta vez pelo sul da França, invadindo a Provença por forças transportadas pelo mar e comandadas pelo filho de Abdul Rahaman. Os Sarracenos já estavam em algumas fortalezas do sul de França, na Provença e o filho de Abdul Rahaman baseando-se nesses apoios levou as força por mar e invadiu a França pelo sul, mas foram destroçados por Carlos Martel já com uma cavalaria pesada com estribos, mas que usava em falanges mistas de infantaria e cavalaria.
Carlos Martel com a ajuda do rei lombardo, Liutprando, defendeu as fortalezas da Provença e iniciou a reconquista de várias localidades como Montfrin, Avinhão, Arles e Aix-en-Provence. Nimes, Agde e Bèziers, que estavam em poder dos sarracenos desde 725, 7 anos antes de Poitiers, foram retomadas e destruídas as suas fortalezas. Deslocou-se rapidamente e destruiu um exército sarraceno em Arles e um exército local no rio Berre, em Narbonne, mas desistiu de retomar Narbonne que deixou cercada para ser retomada pelo seu filho mais tarde, o que só veio a acontecer 21 anos mais tarde, em 759, data em que, com a conquista de Narbonne, foram corridos da França todas as hostes sarracenas.
O Ventor, fala-me disto porque se recorda que, logo que um sarraceno chamado Ben Bella, se tornou presidente da Argélia, num discurso para parolos, ameaçou que, um dia, o mundo muçulmano vingaria Poitiers. A resposta mental do Ventor foi esta: "anda anda! Até lá eu vou investigar o terreno escolhido por Carlos Martel e serei um dos que estarei lá à tua espera"!
Para muitos historiadores e, até para o Ventor que não percebe nada disso, a Batalha de Poitiers, chama-lhe assim, tal como o Ben Bella, foi uma vitória fundamental para que a Europa não tivesse sido conquistada pelas hordas sarracenas. Levando na muche, os sarracenos amocharam e as suas investidas contra a Cristandade do Norte de Espanha, enfraqueceram, permitindo que os homens em redor da Covadonga se fossem movimentando com mais à-vontade contra os seus inimigos figadais - os mouros ... que ali, em Covadonga, tinham também sido derrotados, em 722, 10 anos antes de Poitiers.
O Ventor disse-me que, todas estas batalhas e movimentos dos Sarracenos dentro da Península Ibérica e a sua escalada a partir daí, rumo à Galia, só era possível devido a essas guerras terem por objectivo, primordial, o saque. Manter exércitos enormes em movimentos de catadupa, apenas só com os saques às populações, tornava isso possível. As tentativas da conquista da França, são o exemplo disso e algumas vezes os sarracenos colocavam o saque em sua posse, acima de tudo, fugindo com o saque, mesmo que tivessem de perder batalhas.