A Última Batalha de Alexandre
A Batalha de Hidaspes
Alexandre Magno, como já sabemos, partiu da sua Macedónia com instintos belicosos.
Ele tinha, inculcado na sua cabeça uma verdade única! Dario III, Rei da Pérsia, tinha insultado, numa representação diplomática perso-greco-macedónica, a pessoa de seu pai, Filipe II, Rei da Macedónia, como Rei e como homem e mandou entregar essa nota diplomática, sem retirar uma vírgula do que tinha dito. Filipe tinha na sua cabeça que, no futuro, atacaria a Pérsia, mas sentia que ainda não dispunha do poder militar suficiente para levar a cabo tal empreendimento.

Filipe II da Macedónia, o pai de Alexandre Magno
Entretanto, como Filipe da Macedónia não era burro e nem queria vir a ser, estudava minuciosamente, tudo o que dizia respeito ao poder militar dos persas, as suas ligações estratégicas, a envolvência das colónias gregas situadas na Lídia, nas costas do Mar Egeu e as eventuais alianças de Dario com eventuais desavindos das cidades gregas que não gostavam de Filipe.
Alexandre que era irreverente e decidido, caminhava nos calcanhares do pai, tendo como objectivo, um dia, vir a fazer Dario engolir as palavras com que insultara seu pai.
Por desavenças intestinas e uma luta surda entre a Macedónia e outros estados gregos, sabe-se lá a razão, Filipe foi morto e Alexandre, apoiado por amigos seguros, tomou as rédeas do poder mas sempre com a Pérsia como objectivo.
Como era mais decidido que o pai, tal como ficou provado na acção desencadeada por Filipe junto dos seus generais para ver qual o mais hábil e com capacidade para desfazer o Nó Górdio, é o que se diz, Alexandre, ainda um rapazola, perguntou ao pai o que se passava e este informou-o que comandaria as suas forças militares o general que mais rapidamente fosse capaz de desfazer o Nó Górdio.
Alexandre chateado por ver os generais encrencados a coçar o couro cabeludo com algo que não fazia sentido, virou-se para o pai e disse-lhe que a Macedónia não podia perder tempo com coisas efémeras como essas e deu um golpe com a sua espada, desfazendo o Nó Górdio. O pai, olhou-o e, embora não fosse isso que esperava, achou que ele tinha razão, pois nem pensou duas vezes e só com um golpe da espada desfez esse Nó que ficou famoso para a eternidade. Filipe entregou o comando das tropas ao seu filho que havia provado ser prático, rápido e eficiente.
Foi baseado nessa sua eficiência a tomar decisões que nem pensou duas vezes. Organizou as suas forças e, sem hesitar, atravessou os Dardanelos e avançou sobre o Império Persa até se livrar de Dario III e conquistar toda a Pérsia como vimos até aqui.
Porém, quando já Senhor da Pérsia, ao ter conhecimento que os indianos, por terem sido velhos aliados de Dario ou por terem esperança de trincar as fraldas do império que tinha sido de Dario, começaram a movimentar as suas forças e isso chegou aos ouvidos de Alexandre que, como já vimos, sem dar ouvidos ao Ventor, mandou os seus generais prepararem-se para avançarem pela Bactriana, organizar uma nova caminhada, preparando alguma solidez na sua rectaguarda, consolidando as sus defesas e, depois, descer rumo à Índia.
Esta caminhada foi realizada um tanto ou quanto às cegas, pois nem Alexandre, nem os seus generais tinham conhecimento do que os esperaria pelas montanhas geladas do que é hoje o Afeganistão, o Paquistão e a índia. Desconheciam por onde passar essas montanhas geladas, que rios havia, como sustentarem-se a eles e aos cavalos e nem sabiam se o mar ficava perto ou longe. Disse-me o Ventor que Alexandre e os seus homens julgavam que o rio Indu que nasce nas montanhas mais altas da Ásia, fosse o Alto Nilo ou Nilo Superior, no Egipto. Isto hoje, faz rir estes generais modernos, habituados a ver o mundo de cima para baixo. Mas, com a cartilha de Heródoto nas mãos, muito mal informado, julgando bater as velhas caminhadas de Hércules e de Poseídon que, segundo o que se julgava saber na época, nenhum deles tinha atravessado o rio Indo e Alexandre acabou por fazê-lo.
No âmbito de escaramuças sem fim, no rio Hidaspes, um afluente do rio Indo, no sul do Paquistão travou a sua última batalha militar contra um exército diferente, cuja cavalaria era maioritariamente formada por elefantes. Ele já tinha alguma experiência nessa luta, contra uma "cavalaria" de alguns elefantes utilizados por Dario mas, desta vez, era tudo diferente.
Os seus homens e cavalos, desgastados pelas suas caminhadas em redor das fraldas das montanhas de neves quase perpétuas da grande cordilheira do Indocuche, de ventos e frios gélidos, dispuseram as suas forças, já muito desanimadas na margem do rio Hidaspes junto à fronteira do Paquistão e iniciou-se a peleja com uma desvantagem acentuada para as forças de Alexandre, embora se diga que utilizou tudo o que tinha, inclusivé, uma cavalaria com 75.000 homens.
Aqui, depois de uma luta diferente, com os homens extenuados, com cavalos velhos como o Bucéfalo, mortos ou feridos pelos terríveis elefantes, Alexandre apercebeu-se que o seu empreendimento teria de terminar ali. Foi nas margens do Hidaspes que, como ele confidenciara ao Ventor, travara a sua última batalha, esta, também vitoriosa.

Elefantes ao ataque. Podia ser em Hidaspes
Depois da última grande e péssima caminhada, chegou a Babilónia, sem o Bucéfalo, como já sabem e atacado por febres terríveis.
Algum tempo depois do retorno da Índia, o Ventor entrou nos aposentos de Alexandre, encontrou-o muito deprimido e, praticamente, sem vontade de prosseguir. Ele disse ao Ventor que, depois de tanta guerra e de cinco extenuantes batalhas, sentia que este mundo não era, de facto, o que ele tinha esperado e que iria pedir aos seus generais para que, logo que o Senhor da Esfera chamasse a sua alma, depositassem o seu corpo longe de Babilónia e que, se fosse possível, gostaria que fosse na Macedónia mas, meditou um pouco e olhando o Ventor, olhos nos olhos, disse: "na Macedónia não será possível, pois chegaria lá já desfeito, mas se os meus generais me quiserem fazer uma última vontade, poderiam levar o meu corpo para Siuwa, no Egipto a terra onde fui coroado Faraó e onde ouvi, pela primeira vez, o som da rababa"!
O Ventor, triste com a situação de Alexandre, pois não gostava nada de o ver tão doente, caminhava nas margens do Eufrates ao lado de Diana, nunca abandonando o seu arco e, quando resolveu voltar a ver Alexandre, este, extenuado, já um autêntico farrapo humano, uma amostra do homem que tinha sido, disse ao Ventor que ser belicoso nunca será agradável para ninguém.
"Sabes, Ventor! A única coisa boa que vou levar deste mundo, é a lembrança do Bucéfalo. Adorava ver o Bucéfalo e o Antar a correrem brincando que até pareciam gozar connosco. Na praia egípcia, junto a Rhakotis, o Antar saltou ar fora, parecia voar e o Bucéfalo, muito feliz a olhá-lo mas, lá por dentro, cheio de inveja por não poder acompanha-lo. Mas a vida é mesmo assim Ventor. Diz ao Senhor da Esfera que a minha honra a Apolo é a minha honra a Ele Próprio".
Alexandre a domar o seu cavalo Bucéfalo
A imagem de Alexandre Magno e do seu Bucéfalo, nas batalhas
Talvez o Ventor não me tenha contado tudo sobre Alexandre, talvez eu tenha por aqui algo que não encontro mas, após a morte de Alexandre, o Ventor continuou a sua caminhada sempre com a missão de que o Senhor da Esfera o incumbira - observar o comportamento dos homens.
Mais tarde voltou a Alexandria e acompanhou um pouco Ptolomeu, um dos mais inteligentes generais de Alexandre Magno. Talvez ele me conte um dia mais sobre Alexandria, a primeira cidade "menina" que Alexandre desenhou na areia da praia para o Ventor, juto a à velha aldeia de Rhakotis.

Uma obra reconstruíndo a caminhada de Alexandre Magno para a sua última morada, segundo a descrição de Diodoro. Autor desconhecido.